sábado, 24 de dezembro de 2016

O velhinho como você nunca viu!

Ho ho ho. Requentando postagem velha. 
É Natal e como sou uma das tantas que “adoram” essa “grande” festa, resolvi fazer aqui no bloguinho uma brincadeirinha. Eu sei, aqui é um blog sério, meio abandonado, confesso, mas chutarei o balde.
Aqui vai também um recado para meus familiares, minhas queridas amigas e amigos, eu não comprei e nem comprarei o presentinho de Natal de vocês. Pardon! O aniversariante já desencarnou faz tempo.
Peço a compreensão dos que gostam da festa, mas não pude resistir. Ho, ho, ho!!!!!!

"Seja o amigo secreto de alguém, neste fim de ano DOE SANGUE!"





 

 

 

 

 

 


Papai Noel, aqui está o seu presente!
 

terça-feira, 28 de abril de 2015

Entrevista - Artista plástica baiana cria peças inspiradas nas pinturas rupestres de sua cidade


 Entrevista - Hamona Oliveira


O Arqueologia e Imagem tem o prazer de apresentá-las e apresentá-los nosso mais novo parceiro: Studio Art Cebique.
Para isso compartilho com vocês a entrevista que fiz com a artista plástica e pesquisadora Hamona, que cria lindas camisetas, dentre outros trabalhos, inspirados nas pinturas rupestres de sua cidade natal, Morro do Chapéu-BA.

1. Mona, Hamona (estou na dúvida, como você prefere?)
Prefiro Hamona. É o que uso para trabalho.

2. Primeiro gostaria de agradecer por aceitar o meu convite de entrevista-la, nós do Arqueologia e Imagem sabemos que tens um trabalho interessante baseado nas pinturas rupestres de Morro do Chapéu-BA. Fale um pouco sobre você. Qual a sua formação?
Grande é a minha satisfação em conceder esta entrevista, a qual agradeço. Meu nome é Hamona Oliveira, sou bacharel em artes plásticas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e nesse ano de 2015, inicio minha pós graduação em arteterapia. Atualmente ministro curso de desenho, pintura, modelagem e artesanato para crianças dos 4 aos 10 anos, no  Studio Art Cebique, localizado na minha cidade natal, Morro do chapéu, Bahia. Lá no Studio - eu e meu companheiro Charles Carvalho - fazemos além dos cursos para crianças e adultos, atividades em artes plásticas como: galeria de arte e artesanato; atelier para criação, restauração (artísticos, até pequenos móveis) e reprodução de pintura em tela, esculturas, desenhos, caricaturas, artesanato, pinturas em camisas como a temática atual e constante do “Inscrito na Pedra”.

Fachada do Studio Art Cebique, cidade de Morro do Chapéu-BA. Foto: Studio Art Cebique.

Detalhe do Studio Art Cebique, cidade de Morro do Chapéu-BA. Foto: Studio Art Cebique.

Detalhe do Studio Art Cebique, cidade de Morro do Chapéu-BA. Foto: Studio Art Cebique.

3. Hamona, como surgiu a ideia de trabalhar com arte com inspiração arqueológica?
Na faculdade, quando estudei os períodos da história da arte, o que mais me chamou atenção foi a pré-história, a dita arte rupestre. Ainda não sei o significado dessa atração, talvez a simplicidade da sua produção, o mistério da sua significação ou até a beleza simplória de certas pinturas. Nessa época da faculdade, já realizava trabalhos inspirados nesta temática. A exemplo: realizei desenhos de pinturas rupestres diversas em azulejos de papel num painel coletivo no muro da Escola de Belas Artes (EBA), na chamada intervenção urbana.
Também tive o prazer de estudar um pouco da arqueologia brasileira com o professor Carlos Etchevarne, do complemento de uma carga horária da graduação, a qual veio a ser tão importante par mim, que pensei até em cursar arqueologia. Percebi então, que poderia unir os dois conteúdos por me sentir a vontade com ambos. Hoje, desenvolvo em grande parte de meu tempo, o trabalho de pintura artesanal em camisa com o tema rupestre.

4. O município de Morro do Chapéu possui sítio arqueológicos dos mais diversos, pré-coloniais (pinturas e gravuras rupestres, cerâmicos e líticos) e históricos (relacionados a história da mineração), para você como é se inspirar neste vasto acervo?
Tenho o privilégio de morar no coração da região onde estão distribuídos diversos sítios arqueológicos, inclusive dentro da própria cidade, onde há um ponto de referência com pinturas rupestres para o futuro GEOPARK local. Em qualquer direção apontada, há materiais valorosos para meu trabalho como se fosse a própria extensão de meu atelier. Ou seja, nos é prazeroso ir para estes locais buscar estes registros históricos para reproduzi-los com criatividade artesanal. É simplesmente maravilhoso!!!

5. Fale um pouco do seu processo criativo, da escolha dos desenhos, cores, composição, dos tipos de trabalho que você cria...
A inspiração é direta nos sítios arqueológicos, onde registramos em fotografia todo aquele acervo histórico, e deste material, escolhemos aqueles que se nos parecem mais propícios a nossa linguagem estética. Alguns detalhes são essenciais no processo de coleta: a qualidade da pintura na pedra – se visível ou não;  a habilidade do pintor – aquelas que achamos melhor elaboradas e sua significação, entre outros detalhes. As formas são mais importantes que as cores. Embora o padrão típico e quase monocromáticos dos modelos, também os reproduzimos. Após editar digitalmente as imagens e as transformar em fotolitos para impressão em ‘silk screen’. Depois disso, a criação fica fácil, pois me sinto livre para explorar arranjos entre cores, texturas, modelos, etc.

Sítio Arqueológico na Serra Isabel Dias, Morro do Chapéu-BA. Foto: Studio Art Cebique.

Hamona pintando em seu estúdio. Foto: Studio Art Cebique.

Camiseta. Inscrito na Pedra. Foto: Studio Art Cebique.

 6. Seu trabalho tem recebido muitos elogios, nas redes sociais principalmente, em visita à cidade de Morro do Chapéu vimos que tem alguns trabalhos seus que são vendidos em alguns pontos da cidade. Como é a aceitação do seu trabalho para os morrenses?
A população morrense ainda não se deu conta da riqueza que possui, do imensurável valor material e imaterial; histórico, geológico e ambiental que alicerça suas raízes. Por esta distração ‘histórica’ nosso tipo de trabalho ainda não repercutiu localmente, tanto quanto aos interessados neste conteúdo. O prestigio permanece entre os guias locais de turismo e os visitantes - curiosos e estudiosos - das belezas de Morro do Chapéu e Chapada Diamantina. Esperamos que o advento do Geopark  lhes chamem por fim, a atenção.

O Projeto HYPERLINK "http://www.cprm.gov.br/geoecoturismo/geoparques/morrodochapeu/referenciaschapeu.html"GeoparkHYPERLINK "http://www.cprm.gov.br/geoecoturismo/geoparques/morrodochapeu/referenciaschapeu.html" Morro do Chapéu tem uma importância ímpar neste contexto que estamos trabalhando, principalmente ao nosso projeto ‘Inscrito na Pedra’. Desde que tomamos conhecimento através da Associação dos Filhos Amigos de Morro do Chapéu (ASFAM), vimos nisso uma sincronicidade com nosso trabalho e nossos intentos manifestos, os quais hoje, enfim, tomam um corpo. Esperamos que tudo isso prossiga com êxito, trazendo prosperidade e segurança cultural par todos nós, que estamos à beira de construirmos afinal, uma civilização, demarcada inicialmente nas rochas dos sítios arqueológicos.



domingo, 8 de março de 2015

Populações pré-históricas do Brasil conviveram com a megafauna do Quaternário (Revista da Fapesp)

Car@s leitor@s,

Recebi essa matéria de um grande parceiro e amigo, pesquisador, antropólogo e físico, Francisco José Bezerra de Sá. Achei muito interessante e posto aqui para vocês. A matéria foi publicada na Revista da Fapesp e discute a ocorrência de ossos da megafauna, mais precisamente de uma preguiça gigante, que foi trabalhado pelo homem, no estado de Sergipe.


Convivência incerta

Marcas em fóssil sugerem que paleoíndios interagiram com preguiça-gigante há 12,5 mil anos
IGOR ZOLNERKEVIC | ED. 228 | FEVEREIRO 2015

 
© RODOLFO NOGUEIRA
Concepção artística de Eremotherium laurillardi, preguiça-gigante terrícola que viveu nas Américas até cerca de 12 mil anos atrás
Concepção artística de Eremotherium laurillardi, preguiça-gigante terrícola que viveu nas Américas até cerca de 12 mil anos atrás
O paleontólogo Mário Dantas era aluno de doutorado em agosto de 2010 quando encontrou dois pedaços de um fóssil que se encaixavam perfeitamente e formavam um cone pontiagudo. Sob o sol do Nordeste, ele e colegas se debruçavam sobre uma pilha de ossos fossilizados de animais pré-históricos encontrados na fazenda São José, no munícipio de Poço Redondo, em Sergipe. “Pensei que fosse um dente de tigre-dentes-de-sabre, mas fiquei na dúvida”, lembra Dantas, hoje professor do Instituto Multidisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Agora, após diversas análises e uma datação mais precisa, ele e seus colaboradores estão convencidos de que o fóssil é um dente de preguiça-gigante que foi trabalhado por seres humanos. Um paleoíndio que viveu naquela região teria polido o dente – originalmente ele tem o formato de um longo bastão retangular – até transformá-lo em uma ponta, logo após a morte do animal, há cerca de 12,5 mil anos.
Com esse resultado, cresce o número de evidências, todas ainda controversas, de que populações pré-históricas do Brasil conviveram com a megafauna do Quaternário, animais de grande porte como os tigres-dentes-de-sabre e as preguiças-gigantes. Esses animais teriam vivido nas Américas entre 2,6 milhões de anos e 12 mil anos atrás. Parte se extinguiu quando os seres humanos começaram a povoar o continente. “Na América do Norte há sítios bem documentados com evidências de que o homem matava ou processava o corpo de animais da megafauna”, conta o biólogo Alex Hubbe, da Universidade de São Paulo (USP), que recentemente avaliou possíveis vestígios de convívio entre seres humanos e animais da megafauna no Brasil. Na América do Sul há menos sítios, alguns na Argentina e outros no Brasil. “Aqui, as evidências são duvidosas”, afirma.
DesconfiançaJá em 2010, Dantas e o arqueólogo Albérico de Queiroz, da Universidade Federal de Sergipe, observaram algo estranho no dente fóssil. “Com lupas encontramos na lateral e nas costas do dente marcas profundas e paralelas, muito regulares para serem feitas ao acaso, indicando que alguém as fez com a intenção de moldar o objeto”, diz Dantas. “Se as marcas tivessem sido feitas pelo arrastar das águas ou pelo pisotear de animais, elas seriam rasas e teriam orientações variadas.”
Ele notou ainda que as bordas das marcas eram suaves, sugerindo que haviam sido feitas antes de o dente fossilizar. Chamou a atenção também o fato de a cor do material ser a mesma na borda e nos sulcos, o que indica que são tão antigos quanto o próprio dente.
Anos atrás Dantas mostrou seu achado ao paleontólogo Cástor Cartelle, da Pontifícia Universidade Católica de Minas de Gerais, um dos principais especialistas da megafauna brasileira. De início, Cartelle defendeu que o fóssil seria a ponta de uma presa de tigre-dentes-de-sabre. Ele só mudou de ideia após a publicação do artigo de Dantas em 2012, depois que  Jorge Ferigolo, paleontólogo da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, ajudou o pesquisador da Ufba a confirmar que a estrutura interna do dente era sem dúvida da única espécie de preguiça-gigante que viveu no Nordeste, a Eremotherium laurillardi. “O dente de preguiça é quadrado”, explica o paleontólogo Mario Cozzuol, da Universidade Federal de Minas Gerais, que orientou o doutorado de Dantas e também demorou para se convencer. “Está claro que uma lasca desse dente foi polida e trabalhada para parecer uma ponta; a dúvida era saber quando isso havia acontecido.”
Se usasse o método de datação mais comum, Dantas precisaria extrair 10 gramas de colágeno do osso fossilizado, o que destruiria o dente. Em vez disso, ele preferiu usar um método menos agressivo, a que só teve acesso no ano passado. Essa estratégia, que permite medir o carbono-14 depositado no mineral apatita, exige uma amostra bem menor (menos de 3 gramas). Por esse método, um laboratório nos Estados Unidos determinou que o dente deve ter entre 12.742 e 12.562 anos. Essa idade é próxima da mais antiga evidência de assentamentos humanos em Sergipe. Arqueólogos encontraram recentemente vestígios de fogueiras produzidas há 11 mil anos em Canindé, município vizinho a Poço Redondo e famoso por cerâmicas e ferramentas de pedra feitas por paleoíndios.
Hubbe nota que o método de datação usado por Dantas não é aceito pela maioria dos pesquisadores, por ser menos preciso. “O traçado das marcas em ossos e dentes também são evidências problemáticas”, ele diz. “Processos naturais podem imitar a ação humana.” Quanto à coloração, Hubbe lembra que o dente pode ter sido integralmente tingido de outra cor por algum processo natural que ocorreu depois que foi supostamente polido e jogado no depósito. “Tudo o que eles [Dantas e colaboradores] argumentam pode ter ocorrido”, diz Hubbe. “Mas é necessário conhecer melhor a história de formação do depósito fossilífero onde o dente foi encontrado antes que se possam considerar as conclusões robustas.”
“Encontramos no mesmo sítio fragmentos de cerâmica e ferramentas de pedra, mas tudo fora de contexto”, Dantas reconhece. O sítio de Poço Redondo é o que os sergipanos chamam de “tanque”. São depressões naturais no terreno recheadas de sedimentos acumulados durante milhares de anos. Eles guardam um tesouro para os paleontólogos: esqueletos de animais que morreram na vizinhança e foram arrastados pelas chuvas para esses tanques. Dantas e colegas encontraram fósseis de 13 espécies extintas, com idades variando de 27 mil a 11 mil anos. “Mas a água bagunça tudo, misturando fósseis e artefatos de idades diferentes”, explica o pesquisador, que espera um dia mapear as marcas no dente da preguiça com um microscópio eletrônico e reconstituir melhor a maneira como foram feitas. “Um estudo assim poria um ponto final à questão.”
Artigo científico
DANTAS, M. A. T. et alDated evidence of the interaction between humans and megafauna in the late Pleistocene of Sergipe state, Northeastern BrazilQuaternary International.  v. 352, p. 197-99. out. 2014.